quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Lideres precisam-se


Todos nós, admiradores deste fantástico jogo, que muitos apaixona pelo mundo fora, temos um pouco de treinadores, todos nós temos os nossos ideais de jogo, de jogadores, preferência ou simpatia por esta ou aquela equipa.

Aquando do sorteio para esta fase de qualificação para o europeu, todos sorrimos quando conhecemos o grupo de selecções que nos tinha calhado em sorte. Selecções quase todas elas da classe média baixa do futebol europeu, apesar de algumas delas já terem feito brilharetes no futebol de antigamente (Polónia, Bélgica, Servia (Jugoslávia) e com um pouco de esforço incluímos a Finlândia neste grupo). Portanto o apuramento ia ser conseguido facilmente e em 2008 lá estaríamos nós a defender o nosso 2ª lugar e a atacar o título que nos fugiu em Lisboa. O Facto é que a 4 jogos do fim, estamos envolvidos numa luta a 4 de onde se apurarão 2 selecções.

Desde o início que demonstramos dificuldades, principalmente nos jogos fora de casa, mas esta dupla jornada caseira (Luz e Alvalade) pôs a nu todas as carências colectivas actuais da nossa selecção nacional.
Porem antes de falar dessa carências colectivas, acho importante focar um aspecto importante que se refere as selecções antes da era “Filipão”.

A nossa chamada geração de ouro, demorou ela a chegar as fases finais de europeus (apenas uma passagem pelo euro em Inglaterra que a Republica Checa deitou a baixo) e mundiais, atravessou em conjunto esse longo caminho que foi formar uma equipa, um grupo, mas quando o fizeram, deliciaram-nos a nós e ao mundo com um futebol ao nível dos melhores da Europa. O facto de terem falhado tantas vezes, fez com que aquele europeu na Holanda fosse um grito de revolta de uma selecção feita por jogadores lideres, quase todos eles, jogadores que não se escondiam e que nas horas de aperto, mostravam carácter, Figo, Rui Costa, Paulo Sousa, Fernando Couto, Paulo Bento, serão talvez os maiores exemplos do que pretendo referir quando falo em liderança. Era um grupo que por ter crescido junto se conhecia, e eram poucos os inexperientes que tinham acesso a uma convocatória nacional, e certamente sentiam-se protegidos porque se algo corresse mal, a culpa seria sempre dos jogadores consagrados, que referi anteriormente.

Aos poucos essa geração foi-se retirando, e foram aparecendo novos talentos, Simão Tiago, Miguel, Deco, Maniche, e os expoentes máximos Ronaldo e Quaresma. Figo foi a ultima ligação entre a equipa que tão bem jogou o Euro na Holanda, e por exemplo a equipa que ontem empatou com a Servia. Figo foi o último grande líder dentro de campo da selecção nacional, Figo foi o ultimo de uma geração de líderes que a nossa selecção teve num passado recente.

Num dos últimos textos publicados neste blog referi-me brevemente á evolução do futebol de Cristiano Ronaldo na selecção, quando jogou ao lado de Figo e á sua actual regressão, voltou a tornar-se o jogador individualista que era quando apareceu na equipa das quinas, esse individualismo foi “cortado” em parte pela presença de Figo em campo.
Hoje os “miúdos” como Ronaldo, Quaresma, Nani, e subsequentemente a equipa está órfã de liderança dentro de campo, tem muito talento natural, mas falta-lhe jogadores com a maturidade, com o comando de um Figo, de um Rui Costa, de um Paulo Sousa, falta-lhe alguém que lhes ensine a correr como deve ser. Se repararem quase todos os jogadores quando atingem a sua plenitude de maturidade futebolística, passam a correr menos, mas parece que estão em todo o lado, sabem os segredos quer da sua posição quer das posições dos seus colegas, é isso que eu chamo saber correr dentro do campo, correm pouco, mas parece que correm Km durante o jogo.
É o jogador que na hora em que é preciso atacar em força dá o exemplo, é o jogador que quando é necessário guarda uma vantagem, consegue fazer com que toda a equipa a consiga guarda a bola longe da sua baliza, é o jogador que sem falar muito, naturalmente guia e traça os caminhos da equipa.

É esse tipo de jogadores que actualmente faz falta na selecção nacional, como já disse talento há, mas falta esse tipo de jogador ou jogadores, tínhamos tantos, agora temos falta.

Falar de Scolari numa altura destas é estar a chover no molhado, Scolari têm as mesmas qualidades e defeitos de 4/5 anos atrás, teve o mérito de ter formado um bom grupo na altura que chegou, formou a tão famosa família “Scolari”, e puxou o povo de novo para perto da selecção depois da decepção que tinha sido o mundial da Coreia / Japão.
Desde muito cedo vimos e constatamos que Scolari tem grandes problemas na leitura de jogo a partir do banco, e isso só não saltava mais a vista porque normalmente chegávamos aos períodos decisivos das partidas com a vitória quase garantida, e que nos períodos de aperto, prefere recuar e pôr trancas á porta, mas uma coisa é ter numa equipa, os tais jogadores que tem a maturidade suficiente para saberem o que devem fazer, em cada momento do jogo e outra é simplesmente não tê-los.

Scolari por duas vezes nos últimos dois jogos, em vantagem mínima, optou por recuar e jogar em contra ataque, quando poderia ter tentado defender o resultado no campo adversário, arriscando-se até em aumentar a vantagem. Não se pode queixar do erro do arbitro, pois quer Polónia, quer Servia fizeram por merecer o Empate quando em desvantagem, e nós só nos podemos queixar, de não ter feito pela vitoria quando já estávamos em vantagem. Deve ter sido por treinadores como Scolari que nasceu o provérbio que a melhor defesa é o ataque.

As carências da equipa são obvias, joga muito longe entre sectores, e o sector defensivo perdeu coesão, sem a dupla Ricardo Carvalho e Jorge Andrade. No meio campo Deco está num período menos bom, talvez criado pela instabilidade criada á sua volta dentro do seu clube, a juntarmos a isso a indefinição permanente de quem será o 3 homem no meio campo (Maniche, Tiago, João Moutinho). Apesar de jogar com extremos a equipa chega muito poucas vezes á linha para servir os seus pontas de lança. Na frente desde a saída do amado e odiado Pauleta, nunca mais ninguém consegui agarrar definitivamente o lugar, Nuno Gomes transpira desconfiança, Postiga desconfiança transpira, Hugo Almeida não é aposta. Dá para fazer um clone de Fernando Gomes, Néné ou Rui Jordão? Temos que começar a produzir pontas de lança urgentemente, o objectivo do jogo é o golo.

Ps: não tenho duvidas que vamos estar no próximo europeu, mas depois da mão pesada que a UEFA vai ter em consequências da atitude que Scolari teve no final da partida, pode-se dizer que está aberta a porta para a não negociação da renovação do seu contrato.